segunda-feira, 10 de junho de 2024

    

             Dicionário de Hieróglifos de Sérgio Medeiros

        O poeta Sérgio Medeiros é natural de Bela Vista, cidade de Mato Grosso do Sul, que fica na fronteira entre Brasil e Paraguai. Suas obras evidenciam a cultura ameríndia e questionam os limites entre humanos e não humanos, a partir de traços, palavras e imagens. A poética de Sérgio Medeiros, mesmo com a possibilidade de ser lida à luz dos pressupostos postulados pela ecocrítica, apresenta aspectos singulares que vão além de uma leitura mais tradicional dessa corrente teórico-metodológica. Essa singularidade se constitui na conjunção que o poeta faz da tradição indígena, ecológica e ambiental a experimentalismos formais, como a escrita assêmica, a fim de tensionar categorias como humano, animal e vegetal. Uma obra povoada por muitos seres e espécies diversos, enfim, cruzamentos que permitem orientações conceituais em muitas direções.

Em Dicionário de Hieróglifos, a sensibilidade outra de Sérgio Medeiros no pelos viventes não humanos continua aflorando e/ou germinando. O protagonista desse singular dicionário é um rio, o rio Apa, que abraça sua cidade natal, Bela Vista.  A relevância desse rio, cujo nome é um palíndromo, ou seja, pode ser lido da esquerda para a direita ou vice-versa, um nome poético que para o autor se transforma em 72 páginas de poemas visuais acrescidos por um dissílabo repetido em todo o livro, o qual indaga o que vem primeiro: se a letra ou o hieróglifo. O livro foi publicado no blog do poeta, cuja postagem aconteceu em 25 de abril de 2020. Ao lado do livro, há a seguinte nota explicativa:

Este livro de poesia visual é o catálogo de uma exposição e também a galeria virtual do poeta e artista Sérgio Medeiros. Nas 72 imagens que cobrem as "paredes" desta galeria, o dissílabo "apa" aparece caligrafado de várias formas e prenuncia duas grandes palavras: "aparecer" e "desaparecer", que nunca são escritas. Linhas horizontais, cortadas por uma linha vertical, compõem o hieróglifo fundador que serve de suporte para as letras e para outros hieróglifos: é a imagem do curso e das ondas do Apa, um rio dos confins do Brasil (2020, n.p.). 

O dissílabo “apa” aparece de diversas formas nesse livro-poema-imagem de Medeiros. Aliás, ele é o livro. Usando o referido dissílabo, o poeta coloca em evidência a formação de palavras, já que com o acréscimo de sufixos e prefixos apa forma os vocábulos aparecer e desaparecer (velar e des-velar) e, embora esses termos não estejam visíveis para leitura no livro-poema-imagem, tanto o dissílabo “apa” e o nome próprio “Apa” aparecem e desaparecem reiteradas vezes:

 



Fonte: MEDEIROS, 2020, p.36

É possível saber mais sobre essa obra lendo o artigo “Dicionário de Hieróglifos: as cores representando a memória da fronteira” disponível em https://www.academia.edu/80778343/Dicion%C3%A1rio_de_Hier%C3%B3glifos_as_cores_representando_a_mem%C3%B3ria_da_fronteira

 

segunda-feira, 27 de maio de 2024

 Bom dia pessoal tudo bem?

 Hoje resolvi falar um pouco mais sobre um artigo meu que foi publicado na revista Miscelanea da Unesp. Neste artigo eu falei um pouco sobre poemas de Waly Salomão musicados por Jards Macalé e por Adriana Calcanhoto. Nele analisei as canções Vapor Barato e Pista de Dança, busquei por meio da relação entre música e poesia, ressaltar suas semelhanças, tensões e diferenças, dadas as mudanças culturais ocorridas entre as décadas de 1960/70 e a atual. Utilizei como suporte teórico, principalmente, os trabalhos de Solange Ribeiro de Oliveira, José Miguel Wisnik e Luiz Tatit. Para isso, fiz uma análise do tropicalismo, procurando compreender a inserção de Waly Salomão nesse movimento, por meio dos estudos de Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Heloísa Buarque de Hollanda, dentre outros. Segue o link do artigo para quem tiver interesse em lê-lo na íntegra <  https://www.academia.edu/76270914/Entre_a_Letra_e_a_Melodia>.


Essa relação de letra e melodia que me debrucei no artigo citado acima e também em minha tese de mestrado foram bastante discutidas na palestra show que o poeta e cantor Arnaldo Antunes fez recentemente na UFMS. Quem teve a oportunidade de participar pode ouvir Arnaldo Antunes falar sobre essa relação e como ela é complexa, porque ao mesmo tempo em que as duas linguagens, a canção e a poesia, se aproximam, também se distanciam. A letra da canção é praticamente um poema e o poema possui musicalidade em sua letra, logo as duas artes divergem e convergem, ao passo em que são linguagens distintas


. Estudar a relação das duas é algo que busco desde o mestrado e recentemente mantenho essa pesquisa tanto com a produção de artigos como por meio de pesquisas realizadas no IFMS onde sou docente. Em breve trarei
um pouco mais sobre esse trabalho com a música e a poesia.


segunda-feira, 20 de maio de 2024


Babilaques,experimentações de Waly Salomão

 As experimentaçõesões de Waly Salomão, em especial os Babilaques, são vistas por alguns críticos como únicas na poesia brasileira, como para o artista plástico Luciano Figueiredo (curador da exposição dos Babilaques no Rio de Janeiro em agosto de 2007 e em São Paulo em julho de 2008), que vê essa inovação criativa de Salomão, para a arte brasileira, como os Calligrammes de Apollinaire. Após a exposição Waly Salomão: Babilaques - Alguns Cristais Clivados, que aconteceu no Rio de Janeiro no ano de 2007, foi lançado um catálogo com as 90 fotos expostas e com textos de artistas falando sobre os babilaques.

Série Contrutivista Tabareu, fotografada por Marta Braga (RJ,1977). Fonte:http://walysalomao.com.br/?page_id=14. Acesso em: 16 de jan. de 2009.



Série Amalgâmicas, fotografada por Marta Braga e Santo Graalfico, também fotografada por Marta Braga (RJ 1976). Fonte: http://walysalomao.com.br/?page_id=14. Acesso em: 16 de jan. de 2009.



quinta-feira, 16 de maio de 2024

A Poética Selvagem de Sérgio Medeiros




 Em 13 de julho de 2023 eu defendi minha tese de doutorado "A poética selvagem de Sérgio Medeiros" que vai buscar trazer para o leitor um pouco sobre desse poeta que alia uma simplicidade na apresentação e uma complexidade de compreensão, segue um pouco mais no resumo de minha tese:

O poeta Sérgio Medeiros é natural de Bela Vista, cidade de Mato Grosso do Sul, que fica na fronteira entre Brasil e Paraguai. Suas obras evidenciam a cultura ameríndia[1] e questionam os limites entre humanos e não humanos, a partir de traços, palavras e imagens.[2] A poética de Sérgio Medeiros, mesmo com a possibilidade de ser lida à luz dos pressupostos postulados pela ecocrítica, apresenta aspectos singulares que vão além de uma leitura mais tradicional dessa corrente teórico-metodológica. Essa singularidade se constitui na conjunção que o poeta faz da tradição indígena, ecológica e ambiental a experimentalismos formais, como a escrita assêmica, a fim de tensionar categorias como humano, animal e vegetal. Uma obra povoada por muitos seres e espécies diversos, enfim, cruzamentos que permitem orientações conceituais em muitas direções. Para esta pesquisa, vamos nos valer dos estudos da ecocrítica, do pensamento vegetal, do animismo, do perspectivismo ameríndio e da sabedoria de povos originários para partilhar conosco a leitura da poética visual de Sérgio Medeiros. Interessa-nos as produções em livros físicos, bem como as realizadas no blog do poeta


[1] Utilizei, no decorrer da Tese, a denominação ameríndio(a) por dialogar com as proposições teóricas de Viveiros de Castro, que faz uso de tal terminologia, embora esteja ciente de que alguns teóricos entendem que esse termo não é o mais apropriado para discutir as questões ligadas aos povos originários, tanto que alguns optam por usar perspectivismo indígena.

[2] A capa desta tese é o poema visual de Sérgio Medeiros – “A Memória das folhas”. Nossa inspiração se deu a partir do número 31 da revista Criação & Crítica da USP, que traz a obra de Sérgio Medeiros – “Massa nebulosa: homenagem a L. Wittgenstein.” A capa da revista poder ser acessada em: https://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/issue/archive.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2023



Poema audio - visual - Breve Constatação

Depois de algum tempo sem postar resolvi colocar um pouco mais sobre o meu trabalho com poesia e canção. Compartilho com todos um poema que foi musicado e é intitulado Breve Constatação, vocês vão o encontrar no youtube, palco mp3, vagalume e cifraclube. Inicialmente veio o poema, mas com o intuito de completar o seu sentido e criar uma arte mais integral, a fim de tirar o poema do papel, bem ao estilo Waly Salomão, acresci a letra à melodia e saiu essa composição audio-visual, espero que apreciem!

BREVE CONSTATAÇÃO Vidas são tão banais e a juventude quer algo mais Vidas são tão constante todos querem um lugar Olhos são tão mortais... sempre em busca a procura..... E o ser não está contente E o ser não está presente Nos momentos primordiais Nos momentos tão importantes Que vão como um simples papel vem e atravessa o vento (Bis) Como são relevantes Os mais singelos instantes Inconstância do não saber Do que buscar e não querer Do bem querer Que se encontra Durante a busca a procura..... E o ser não está contente E o ser não está presente Nos momentos primordiais Nos momentos tão importantes Que vão como um simples papel voa através do vento


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plays






https://www.palcomp3.com.br/sirleyrojas/breve-constatacao/ 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018


Tempo

Tempo tempo
Muito tempo
Voa o tempo
E eu aprendendo
Como fazer uma construção
Tempo tempo
Muito tempo
Vai o tempo
E eu desaprendo
A viver sem ilusão
Tempo tempo
Muito tempo
Quem dera parasse
Na rima da perfeição.