Dicionário de Hieróglifos de Sérgio Medeiros
O poeta Sérgio Medeiros é
natural de Bela Vista, cidade de Mato Grosso do Sul, que fica na fronteira
entre Brasil e Paraguai. Suas obras evidenciam a cultura ameríndia e
questionam os limites entre humanos e não humanos, a partir de traços, palavras
e imagens. A poética de Sérgio Medeiros, mesmo com a possibilidade de ser
lida à luz dos pressupostos postulados pela ecocrítica, apresenta aspectos
singulares que vão além de uma leitura mais tradicional dessa corrente
teórico-metodológica. Essa singularidade se constitui na conjunção que o poeta faz da tradição
indígena, ecológica e ambiental a experimentalismos formais, como a escrita
assêmica, a fim de tensionar categorias como humano, animal e vegetal. Uma
obra povoada por muitos seres e espécies diversos, enfim, cruzamentos que
permitem orientações conceituais em muitas direções.
Em Dicionário de Hieróglifos, a sensibilidade outra de Sérgio Medeiros no pelos viventes não humanos continua aflorando e/ou germinando. O protagonista desse singular dicionário é um rio, o rio Apa, que abraça sua cidade natal, Bela Vista. A relevância desse rio, cujo nome é um palíndromo, ou seja, pode ser lido da esquerda para a direita ou vice-versa, um nome poético que para o autor se transforma em 72 páginas de poemas visuais acrescidos por um dissílabo repetido em todo o livro, o qual indaga o que vem primeiro: se a letra ou o hieróglifo. O livro foi publicado no blog do poeta, cuja postagem aconteceu em 25 de abril de 2020. Ao lado do livro, há a seguinte nota explicativa:
Este livro de poesia visual é o catálogo de uma exposição e também a galeria virtual do poeta e artista Sérgio Medeiros. Nas 72 imagens que cobrem as "paredes" desta galeria, o dissílabo "apa" aparece caligrafado de várias formas e prenuncia duas grandes palavras: "aparecer" e "desaparecer", que nunca são escritas. Linhas horizontais, cortadas por uma linha vertical, compõem o hieróglifo fundador que serve de suporte para as letras e para outros hieróglifos: é a imagem do curso e das ondas do Apa, um rio dos confins do Brasil (2020, n.p.).
O
dissílabo “apa” aparece de diversas formas nesse livro-poema-imagem de
Medeiros. Aliás, ele é o livro. Usando o referido dissílabo, o poeta coloca em
evidência a formação de palavras, já que com o acréscimo de sufixos e prefixos
apa forma os vocábulos aparecer e desaparecer (velar e des-velar) e, embora
esses termos não estejam visíveis para leitura no livro-poema-imagem, tanto o
dissílabo “apa” e o nome próprio “Apa” aparecem e desaparecem reiteradas vezes:
Fonte: MEDEIROS, 2020,
p.36
É
possível saber mais sobre essa obra lendo o artigo “Dicionário de Hieróglifos:
as cores representando a memória da fronteira” disponível em https://www.academia.edu/80778343/Dicion%C3%A1rio_de_Hier%C3%B3glifos_as_cores_representando_a_mem%C3%B3ria_da_fronteira
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